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Nitazoxanida e prevenção/tratamento da Covid-19: evidências dos estudos clínicos

Por Samantha Monteiro Martins


A COVID-19 é uma doença causada por uma nova espécie de coronavírus denominada SARS-CoV-2 e apresenta um espectro clínico que varia de infecções assintomáticas a quadros graves (1). Desde a identificação do agente etiológico da COVID-19, a indústria farmacêutica e pesquisadores de diversas instituições têm se esforçado para desenvolver uma vacina e buscar tratamentos seguros e eficazes. Uma das estratégias adotadas, denominada reposicionamento de fármacos, foi investigar se medicamentos já existentes no mercado, utilizados para tratar outras doenças, poderiam ser usados no tratamento da COVID-19. Dentre os medicamentos que vêm sendo investigados, a nitazoxanida (Annita®) constitui um exemplo.


A nitazoxanida foi sintetizada pela primeira vez na década de 70, tendo sido inicialmente desenvolvida como um agente antiparasitário especialmente contra Cryptosporidium spp. (2) e, posteriormente, mostrou ter atividade antiviral de amplo espectro incluindo atividade in vitro contra coronavírus e influenza A (3, 4, 5). Atualmente a nitazoxanida é indicada para o tratamento de infecções como: gastroenterites virais provocadas por rotavírus e norovírus; helmintíases provocadas por nematódeos, cestódeos e trematódeos, como: Enterobius vermicularis, Ascaris Lumbricoides, Strongyloides stercoralis, Ancylostoma duodenale, Necator americanus, Trichuris trichiura, Taenia sp, Hymenolepis nana; amebíase, para tratamento da diarreia por amebíase intestinal aguda ou disenteria amebiana causada pelo complexo Entamoeba Histolytica/dispar; giardíase, para tratamento da diarreia causada pela Giardia lamblia ou Giardia intestinalis; Criptosporidíase, para tratamento da diarreia causada por Cryptosporidium parvum; blastocistose, balantidíase e isosporíase, causadas, respectivamente, por Blastocystis hominis, Balantidium coli e Isospora belli (6), não sendo a sua administração indicada em pacientes que tenham hipersensibilidade ao fármaco, portadores de diabetes, doenças hepáticas ou doença renal (6).


Recentemente, um estudo de triagem contra o SARS-CoV-2 mostrou que a nitazoxanida apresentava atividade in vitro contra este vírus (7). Desde então, uma série de estudos clínicos vêm sendo conduzidos de forma a averiguar a eficácia e a segurança da nitazoxanida de forma isolada ou em combinação com outros medicamentos no tratamento da COVID-19. Atualmente, na plataforma clinicaltrials.gov existem 24 registros de estudos clínicos com a nitazoxanida, sendo que a maioria está na fase de recrutamento dos participantes (15 estudos) e 3 estudos foram finalizados, sendo que somente um deles teve os resultados divulgados e publicados (8). Alguns estudos clínicos propõem avaliar a nitazoxanida no tratamento de pacientes que apresentam diferentes graus de severidade da COVID-19 (formas leves a moderadas da doença, incluindo pacientes hospitalizados). Enquanto outros estudos estão sendo conduzidos para avaliar a eficácia e a segurança da profilaxia pré ou pós-exposição à COVID-19 e outras doenças respiratórias virais em profissionais de saúde e outros que apresentam risco aumentado de infecção por SARS-CoV-2 como, por exemplo, pessoas que participam de atividades sociais e que não seguem as orientações de distanciamento.


A Tabela de avaliação de evidências para tratamentos relacionados à COVID-19 elaborada pela American Society of Health-System (ASHP) (9) inclui a experiência clínica do uso da nitazoxanida no tratamento da influenza e de doenças semelhantes à influenza, além de trazer informações sobre estudos clínicos que estão em andamento para avaliar a nitazoxanida na prevenção ou tratamento da COVID-19. Apesar do número significativo de estudos sendo conduzidos, é importante frisar que ainda não há estudos clínicos que comprovem qualquer benefício da nitazoxanida para o tratamento ou prevenção de formas leves e graves da COVID-19.


Acesse a versão traduzida pelo CRIM UFRJ-Macaé da Tabela da ASHP para obter mais informações sobre as evidências disponíveis para tratamentos relacionados à COVID-19.



Referências:

  1. Ministério da Saúde. https://coronavirus.saude.gov.br Acesso em 26/01/2021.

  2. Rossignol, J. -F. A.; Ayoub, A.; Ayers, M. S. (2001) Treatment of Diarrhea Caused by Cryptosporidium parvum: A Prospective Randomized, Double-Blind, Placebo-Controlled Study of Nitazoxanide. J. Infect. Dis. 184 (1), 103−106.

  3. Rossignol, J. -F. (2014) Nitazoxanide: A first-in-class broad- spectrum antiviral agent. Antiviral Res. 110, 94−103.

  4. Rossignol J. -F. (2016) Nitazoxanide, a new drug candidate for the treatment of Middle East respiratory syndrome coronavirus. J Infect Public Health. (9), 227–30. PMID: 27095301 DOI: 10.1016/j.jiph.2016.04.001.

  5. Stachulski, A. V.; Santoro, M. G.; Piacentini, S.; Belardo, G.; Frazia, S. L.; Pidathala, C.; Row, E. C.; Berry, N. G.; Iqbal, M.; Allman, S. A.; Semple, J. E.; Eklov, B. M.; O’Neill, P. M.; Rossignol, J.-F. (2018) Second-generation nitazoxanide derivatives: thiazolides are effective inhibitors of the influenza A virus. Future Med. Chem. 10 (8), 851−862.

  6. Bulário eletrônico ANVISA

  7. Wang M.; Cao R.; Zhang L. et al. (2020) Remdesivir and chloroquine effectively inhibit the recently emerged novel coronavirus (2019-nCoV) in vitro. Cell Res. (30) 269–271. PMID: 32020029 DOI: 10.1038/s41422-020-0282-0.

  8. https://clinicaltrials.gov/ct2/results?cond=Covid19&term=nitazoxanide&cntry=&state=&city=&dist= Acesso em 26/01/2021.

  9. ASHP. Evidence Table- updated january 14, 2020. Disponível em: https://www.ashp.org/COVID-19. Acesso em 26/01/2021.


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