Ivermectina versus COVID-19: as evidências disponíveis suportam o uso?
- CRIM UFRJ Macaé
- 19 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 10 de dez. de 2020
Por Fernanda Lacerda da Silva Machado
A ivermectina é um agente anti-helmíntico indicado para tratamento de infecções causadas por nematódios, Onchocerca volvulus, filaríase linfática (Wuchereria bancrofti), Strongyloides stercoralis, Larva migrans cutânea, pediculose (Pediculus humanus capitis e pubis) e escabiose (Sarcoptes scabiei) (1). Seu uso está contraindicado em casos de hipersensibilidade ao fármaco, gravidez e dano na barreira hematoencefálica, visto que a ivermectina pode interagir com receptores GABA do sistema nervoso central (1).
Em altas concentrações, a ivermectina apresentou atividade in vitro contra SARS-CoV-2 (2). Entretanto, um estudo de modelagem farmacocinética estimou que a dose necessária para atingir as concentrações associadas à inibição in vitro seria 10 vezes superior às doses terapêuticas comumente empregadas. Com base nestes resultados, os autores apontaram que é pouco provável que estudos clínicos utilizando as doses de uso atualmente aprovadas apresentem resultados promissores (3).
A Tabela de avaliação de evidências elaborada pela American Society of Health-System (ASHP) incluiu apenas dois estudos observacionais com um número pequeno de pacientes, sem revisão por pares, que sugerem um benefício clínico da ivermectina na redução da duração de hospitalização e diminuição da mortalidade. Entretanto, estes resultados precisam ser confirmados por estudos clínicos, visto que o impacto de fatores de confusão é incerto, incluindo tempo desde o diagnóstico, diferenças entre tratamentos empregados simultaneamente e suas variações clínicas (4).
De acordo com o boletim da Rede de Centros de Informação da América Latina e Caribe, as recomendações de uso para ivermectina devem ser feitas após uma avaliação mais aprofundada, visto o potencial de efeitos neurotóxicos, sobretudo em pacientes com fatores que aumentam a permeabilidade da barreira hematoencefálica (5).
Desta forma, pode-se afirmar que as evidências disponíveis atualmente não são suficientes para recomendar o uso da ivermectina para o tratamento ou prevenção da covid-19. O uso nestas condições representa desperdício de recursos, expõe desnecessariamente a riscos com uma eficácia incerta.
Para saber mais informações sobre as evidências disponíveis para tratamentos relacionados à covid-19, acesse a nossa versão traduzida da Tabela da American Society of Health-System Pharmacists.
Referências:
1. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos. Formulário terapêutico nacional 2010: RENAME 2010. Brasília: Ministerio da Saude; 2011.
2. Caly L, Druce JD, Catton MG et al. The FDA-approved drug ivermectin inhibits the replication of SARS-CoV-2 in vitro. Antiviral Res. 2020; 178:104787 [Epub]. PMID: 32251768 DOI: 10.1016/j.antiviral. 2020.104787.
3. Schmith VD, Zhou JJ, Lohmer LR. The approved dose of ivermectin alone is not the ideal dose for the treatment of COVID-19. Clin Pharmacol Ther. 2020; May 7. PMID: 32378737 DOI: 10.1002/cpt.1889
4. ASHP. Evidence Table- updated November 12, 2020. Disponível em: https://www.ashp.org/COVID-19. Acesso em 17 nov 2020.
5. Red de Centros de Información de Medicamentos de Latinoamérica y el Caribe. Especial COVID-19 de la Red CIMLAC. Red CIMLAC Informa. Julio 2020; Año VII (9):1-31.
Posts recentes
Ver tudoPor Denise Oliveira Guimarães A vitamina D é um medicamento utilizado no tratamento auxiliar da desmineralização óssea pré e...
Considerando o desafio que é manter-se atualizado em meio a tantas notícias sobre a pandemia, o CRIM UFRJ-Macaé organizou referências...
O Centro Regional de Informações sobre Medicamentos da UFRJ-Macaé (CRIM UFRJ-Macaé) atua na busca, avaliação crítica e divulgação de...
Comments