Cloroquina e hidroxicloroquina são agentes promissores no tratamento da COVID-19?
- CRIM UFRJ Macaé
- 17 de dez. de 2020
- 3 min de leitura
Por Danielle Martins Ventura e Fernanda Lacerda da Silva Machado
A cloroquina e hidroxicloroquina são fármacos derivados da 4-aminoquinolona empregados na profilaxia e tratamento da malária. A cloroquina também é utilizada para o tratamento de amebíase hepática, artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico e discoide, na sarcoidose e em doenças de fotossensibilidade como a porfiria cutânea tardia e as erupções polimórficas graves desencadeadas pela luz. De igual forma, a hidroxicloroquina pode ser empregada para o tratamento do lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide (1).
Esses medicamentos são contraindicados nos casos de hipersensibilidade conhecida aos compostos derivados da 4-aminoquinolina, alterações na retina ou do campo visual de qualquer etiologia (1,2), e para pacientes com prolongamento do intervalo QT ou risco aumentado de arritmias (1).
A cloroquina é comercializada na forma de comprimidos de 50 mg e 150 mg de difosfato de cloroquina, e solução injetável 50 mg/mL de dicloridrato de cloroquina (2). Enquanto a hidroxicloroquina está disponível na forma de sulfato em comprimidos de 400 mg. Os efeitos adversos incluem problemas cardíacos como prolongamento do QTc, Torsades de Pointes, arritmia ventricular, cardiomiopatia, insuficiência cardíaca; além de outros como hipoglicemia, anemia aplástica e anemia hemolítica, hepatite, aumento das enzimas hepáticas, anafilaxia, doença extrapiramidal (aguda), convulsões, distúrbio da mácula da retina, distúrbio retinal, entre outros (1,2).
As propriedades antivirais destes fármacos vêm sendo estudadas há muitos anos, e essa atividade já foi demonstrada in vitro contra vários vírus (3), incluindo coronavírus (SARS-CoV-2) (4). A cloroquina pode alterar o pH na superfície da membrana celular inibindo assim a fusão do vírus (5). Pode também inibir a replicação do ácido nucleico e a glicosilação de proteínas virais, o transporte de partículas e a liberação do vírus, resultando na inibição da infecção e disseminação da mesma (5,6). Além disso, também possuem atividade imunomoduladora o que poderia, teoricamente, contribuir para uma resposta anti-inflamatória, impedindo o agravamento da doença (5).
Embora algumas evidências indiquem uma possível ação positiva da cloroquina/hidroxicloroquina para o tratamento da COVID-19, até o momento não existem dados que comprovem que a atividade in vitro contra a SARS-CoV-2 corresponda à eficácia clínica no tratamento ou prevenção da COVID-19 (7-9). Dados ainda não publicados referentes ao estudo Solidariedade da Organização Mundial da Saúde, que envolveu quase 13 mil pacientes em 500 hospitais de todo o mundo, indicaram que a hidroxicloroquina tem pouco ou nenhum efeito na prevenção de mortes por COVID-19 ou na redução do tempo de hospitalização (10).
Diante disso, instituições como a Infectious Diseases Society of America (IDSA) e o National Institutes of Health (NIH), entre outras, não recomendam o uso em pacientes com a COVID-19, e alertam sobre a necessidade de dados confiáveis, obtidos a partir de estudos clínicos controlados e randomizados, que forneçam suporte para o uso seguro e eficaz na prevenção ou no tratamento da COVID-19 (11, 12).
Para saber mais informações sobre as evidências disponíveis para tratamentos relacionados à COVID-19, acesse a nossa versão traduzida da Tabela da American Society of Health-System Pharmacists.
Referências
1. Micromedex [Internet]. IBM Watson Health, Micromedex drug reference. Disponível em: https://www.micromedex solutions.com. Acesso em 03 dez. 2020.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos. Formulário terapêutico nacional 2010: RENAME 2010. Brasília: Ministério da Saúde; 2010.
3. Rodrigo C, Fernando SD, Rajapakse S. Clinical evidence for repurposing chloroquine and hydroxychloroquine as antiviral agents: a systematic review. Clin Microbiol Infect. 2020 Aug;26(8):979-987. doi: 10.1016/j.cmi.2020.05.016. Epub 2020 May 26. PMID: 32470568; PMCID: PMC7250111.
4. Wang, M., Cao, R., Zhang, L. et al. Remdesivir and chloroquine effectively inhibit the recently emerged novel coronavirus (2019-nCoV) in vitro. Cell Res 30, 269–271 (2020). https://doi.org/10.1038/s41422-020-0282-0
5. Yao X. et al. In Vitro Antiviral Activity and Projection of Optimized Dosing Design of Hydroxychloroquine for the Treatment of Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2). Clin Infect Dis. 2020 Jul 28;71(15):732-739. doi: 10.1093/cid/ciaa237. PMID: 32150618; PMCID: PMC7108130.
6. Vincent MJ, et al. Chloroquine is a potent inhibitor of SARS coronavirus infection and spread. Virol J. 2005 Aug 22;2:69. doi: 10.1186/1743-422X-2-69. PMID: 16115318; PMCID: PMC1232869.
7. Kotecha P, et al. Repurposing of drugs for COVID-19: a systematic review and meta-analysis. Panminerva Med. 2020 Oct 19. doi: 10.23736/S0031-0808.20.04024-0. Epub ahead of print. PMID: 33073552.
8. De Barros CM, et al. COVID-19 Pandemic - A Narrative Review of the Potential Roles of Chloroquine and Hydroxychloroquine. Pain Physician. 2020 Aug;23(4S):S351-S366. PMID: 32942793.
9. Axfors C, Schmitt AM, Janiaud P, van ’t Hooft J, Abd-Elsalam S, Abdo EF, et al. Mortality outcomes with hydroxychloroquine and chloroquine in COVID-19: an international collaborative meta-analysis of randomized trials. preprint. Disponível em: https://www .medrxiv.org/content/10.1101/2020.09.16.20194571v2. Acesso: 03 dez. 2020.
10. Organização Pan-americana da Saúde. Folha informativa COVID-19 - Escritório da OPAS e da OMS no Brasil. Disponível em: https://www.paho.org/pt/covid19. Acesso em 08 dez. 2020.
11. Infectious Diseases Society of America. Infectious Diseases Society of America Guidelines on the Treatment and Management of Patients with COVID-19. Disponível em: https://www.idsociety.org/practice-guideline/covid-19-guideline-treatment-and-management/#toc-3. Acesso 03 dez. 2020.
12. National Institutes of Health. COVID-19 Treatment Guidelines Panel. Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Treatment Guidelines. Disponível em: https://www.covid19treatmentguidelines.nih.gov/. Acesso em: 03 dez. 2020.
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