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Liraglutida. Uma nova opção para o tratamento da obesidade e sobrepeso?


A ANVISA aprovou recentemente a indicação da Liraglutida (Saxenda®) para o tratamento da obesidade e sobrepeso associado à prática de exercícios físicos e dieta de restrição calórica para pacientes com índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30 kg/m2 ou acima de 27 kg/m2 para aqueles que apresentam pelo menos uma comorbidade relacionada a sobrepeso, tais como disglicemia (pré-diabetes e diabetes mellitus tipo 2), hipertensão arterial, dislipidemia ou apneia obstrutiva do sono (1). Esta substância já tem sido utilizada no tratamento da Diabetes mellitus tipo 2 (Victoza®), porém em dosagens menores, sendo iniciada com 0,6 mg/dia e manutenção da terapia de 1,2 ou 1,8 mg por dia (subcutânea), enquanto para tratamento da obesidade, inicia-se com aplicações subcutâneas de 0,6 mg/dia, aumentando semanalmente 0,6 mg/dia, até a dosagem de manutenção de 3,0 mg/dia (2), quase o dobro da dose indicada para o tratamento da diabetes.

A Liraglutida é um agonista do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon (GLP-1) e sua estrutura química possui 97% de analogia estrutural ao GPL-1 endógeno, com meia vida de cerca de 13 horas, enquanto o GLP-1 endógeno possui meia vida de 1 a 2 minutos. Esta maior estabilidade da Liraglutida confere a presença dessa substância por um tempo maior no organismo, prolongando seus efeitos (3). A Liraglutida acarreta aumento da secreção de insulina, diminuição dos níveis plasmáticos do glucagon, retardamento do esvaziamento gástrico e aumento da sensação da saciedade por alimentos (4).

Até o ano de 2015 foram publicados 5 estudos randomizados, duplo-cego, sobre o uso da Liraglutida para o controle do peso (4), os resultados desses estudos foram relativamente semelhantes quanto a porcentagem de perda de peso e padrões de efeitos adversos. Astrup e colaboradores realizaram um estudo com 733 pacientes sem comorbidades relacionadas ao peso. Todos os voluntários possuíam IMC acima de 30 kg/m2 e foram submetidos à dieta de restrição calórica e exercícios físicos periódicos. Este estudo teve duração de 20 semanas e os resultados demonstraram que 76,1% dos pacientes que receberam Liraglutida 3,0 mg/dia obtiveram redução de pelo menos 5 % do peso, enquanto para o grupo que recebeu placebo, apenas 29,6% das pessoas apresentaram redução igual ou maior à 5% do peso corporal. Houve também um terceiro grupo que recebeu o medicamento orlistat e 44% desses obtiveram redução do peso igual ou acima de 5%. Apesar do grupo que recebeu Liraglutida ter demonstrado maior perda de peso, também houve a maior incidência de efeitos adversos em relação aos demais grupos, sendo os mais comuns náuseas e vômitos, relatado em 10% dos pacientes, havendo também casos de insônia (6 casos), depressão (3 casos) e nervosismo (2 casos) (5).

Lean e colaboradores realizou um estudo com 564 participantes não diabéticos, também submetidos à dieta de restrição de calorias e exercícios físicos regulares. O uso da Liraglutida foi monitorado nos tempos de 20, 48 e 96 semanas. O grupo que recebeu Liraglutida 3,0 mg/dia perdeu em média 7,2 kg em 20 semanas, 7,8 kg em 1 ano e 5,3 kg em 2 anos. Os efeitos adversos mais comumente apresentados foram náuseas (48%) e vômitos (13%). Esse estudo também revelou que a incidência desses efeitos adversos foi maior entre aqueles que obtiveram maior perda de peso. Pacientes que apresentaram náuseas e vômitos perderam em média 9,2 kg, enquanto aqueles que não apresentaram esses sintomas perderam cerca de 6,3 kg (6).

A hipoglicemia é considerada efeito adverso da Liraglutida (2) comumente observado em pacientes diabéticos, no entanto, estudos com pacientes não diabéticos não observaram o quadro clínico de hipoglicemia (4-7). Os efeitos adversos mais comuns para a Liraglutida, segundo as bases de dados, são náuseas (28,4 a 39,3%), vômitos (10,9 a 17, 1%), constipação (9,9 a 19,4%), diarreia (17,1 a 20,9%), dor de cabeça (9,1 a 13,6%) e infecção do trato respiratório superior (9,5%), além da hipoglicemia (9,7%). Enquanto os efeitos mais sérios relatados foram câncer de mama (0,6%), hiperplasia das células C da tireóide, carcinoma medular da tiróide, carcinoma papilar da tireóide (0,2%), colecistite (0,6%), colelitíase (1,5%), câncer colorretal (0,1 a 0,5%), câncer de pâncreas, pancreatite (0,3%), anafilaxia, tendências suicidas (0,2%), insuficiência renal aguda e angioedema (2).

A Liraglutida é contra-indicada na gravidez, já que estudos em animais apresentaram anomalias no feto e não há estudos que avaliem o risco para lactentes. As principais interações medicamentosas relatadas são com medicamentos que se usados concomitantemente podem gerar ou agravar um quadro de hipoglicemia, como insulinas, fluoroquinolonas, bloqueadores beta-adrenérgicos, inibidores da monoamina-oxidase e inibidores da enzima conversora de angiotensina (2).

Não foram encontrados estudos clínicos comparativos da ação da Liraglutida com outros medicamentos emagrecedores, com a excessão do orlistat (7). Serão ainda necessário alguns anos de uso do medicamento para se acompanhar e avaliar o uso da Liraglutida a longo prazo na população (estudos de fase 4).

Revisão: Thaísa Amorim, Fernanda Lacerda, Danielle Santos

Referências

  1. Anvisa-Agência Nacional da Vigilância Sanitária. Disponível em:

<http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/anvisa+portal/anvisa/sala+de+imprensa/menu++noticias+anos/201616/liraglutida+aprovada+como+tratamento+auxiliar+para+o+controle+do+peso+em+adultos->.

  1. MICROMEDEX. Disponível em: <http://www-micromedexsolutions-com.ez29.periodicos.capes.gov.br/micromedex2/librarian/>. Acesso em: 22 de março de 2016.

  2. Agerso H, Jensen LB, Elbrond B, Rolan P, Zdravkovic M. The pharmacokinetics, pharmacodynamics, safety and tolerabilityof NN2211, a new long-acting GLP-1 derivative, in healthymen. Diabetologia; 45: 195–202, 2002.

  3. Nuffer,W, A e Trujillo, J. M. Liraglutide: A New Option for the Treatment of Obesity. Pharmacotherapy; 35(10): 926–934, 2015.

  4. Astrup A, Rossner S, Van Gaal L, et al. Effects of liraglutide in the treatment of obesity: a randomised, double-blind, placebo-controlled study. Lancet; 374(9701): 1606–16, 2009.

  5. Lean, MEJ; Carraro, R; Finer, N; Hartvig, H; Lindegaard; Rossner, MLS; Van Gaal e Astrup, A. Tolerability of nausea and vomiting and associations with weight loss in a randomized trial of liraglutide in obese, non-diabetic adults. International Journal of Obesity 38, 689–697, 2014

  6. ELadenheim, E. Liraglutide and obesity: a review of the data so far. Drug Design, Development and Therapy; 9: 1867–1875, 2015.

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